terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

OPINIÃO - CADA UM TEM A SUA?

"Eu acho que lugar de mulher é na cozinha."
"Em minha opinião, gays não podem se casar, por que não é certo"
"Eu penso que funk é coisa de marginal e favelado"
"Pra mim, preto tinha tudo que ser morto."
"Eu acho que a escravidão é uma forma bastante coerente de trabalho"
"Em minha opinião, a Terra é quadrada!"

Acho bastante cômodo que, quando uma pessoa não tem base para sustentar suas ideias intolerantes, a justificativa seja que "todo mundo tem direito a uma opinião". É claro (e desnecessário falar) que cada um, sim, tenha direito de pensar o que quiser. O pensar é pessoal, e eu inclusive encorajo a liberdade de pensamento e de escolha - Sem sequer entrar em relativismos sobre o que é verdade, ou o que é certo, por que são justamente esses relativismos dão direito (e dever!) às pessoas de deixar suas mentes mais abertas ao mundo que as cerca.

A questão é que não dá pra simplesmente posicionar-se sobre as coisas e achar que nunca mais precisa-se pensar no assunto. Primeiramente, por que muitas "opiniões" já vem prontas para você: A grande mídia, juntamente com as grandes empresas de comércio, já as entregam prontinhas, no conforto do seu lar. Aliás, para eles, é interessante que você nem pense muito sobre as opiniões que eles estão te dando. Preferem que você compre aquela opinião e nunca mais pense mesmo sobre ela, assim você nunca vai questionar se realmente precisa, por exemplo, comprar um produto deles. Afinal, sua opinião já se formou no sentido de achar aquele produto muito necessário para a sua vida.

Além desse problema, existe um limite bem delicado, quase inexistente, entre as coisas que acontecem no plano mental e no plano da realidade. E certas opiniões (mentais), quando vem junto com a atitude (real) de achar que 'se é opinião, não se discute', geram pessoas que se sentem no direito de ser intolerantes por conta disso. Colocar a opinião num pedestal de 'intocável' é minimizar demais as consequências que uma simples opinião pode ter sobre o mundo ao seu redor. Baseando-se apenas em opinião, é possível uma pessoa ser racista, machista, ladrão, grosseiro, misógino... Enfim, tornar-se uma pessoa muito desnecessária para o mundo.

Para perceber o quanto uma simples opinião pode ser muito efetiva quando usada no mundo real, pense na seguinte situação: Eu posso "achar, em minha humilde opinião", que não preciso ser educada com o garçom - por que não o conheço, ou por que ele está lá apenas para me servir. Essa é a minha opinião, mas isso não muda o fato de a minha "opinião" estar bem, BEM equivocada - não tenho nenhum direito de tratar mal uma pessoa me baseando apenas na "minha opinião".

Que fique claro que isso não tem nada a ver com liberdade de expressão. Todos têm direito de expressar suas opiniões, e têm que ter esse direito. O meu ponto é, antes de defender a sua opinião com unhas e dentes, que a pessoa pense no mundo fora de dela mesma. Pense que aquilo que decidir não é válido somente para aquilo que gira em torno do seu umbigo - afeta todo o resto. Minha mãe sempre me diz: "O seu direito acaba quando começa o do outro". Isso, opinião nenhuma pode mudar - por exemplo, você tem todo o direito de 'achar' que não é certo homossexuais tenham direito a união civil, enquanto eles acham que têm. A opinião dos homossexuais não muda o seu direito de casar, mas a sua opinião muda o direito deles. Não faz sentido algum que apenas a sua opinião te leve a tirar esses direitos dos homossexuais (ou deixar de conceder, como é o caso de nossa sociedade atual). Você tem direito a achar que eles não podem ter, e eles tem direito a ter. Fim de papo.

E como consequência disso, pode ser, sim, que tenhamos que tolerar pessoas diferentes de nós sendo elas mesmas por aí... gente andando com cabelo cor-de-abóbora pela rua, mulheres de saia curta, gays se beijando em público, gente cantando no metrô... Teremos de lidar com coisas que, apesar de você 'ser contra', ou 'achar um absurdo', ou 'achar que não é certo', não mudam sua vida em absolutamente nada - portanto, nada te dá o direito de interferir.

Para quem achar que estou defendendo a 'balburdia', vou dar mais um exemplo, bastante claro nesse sentido: Um cidadão comum pode, um dia, achar que o fato de uma mulher usar saias curtas dá a ele liberdade estuprá-la. Essa é a opinião dele. Na opinião dela, usar saia curta é uma coisa confortável, e ela não acha que deve ser estuprada por causa disso. Será que ele pode agredi-la, ou violar a liberdade e o corpo dela, baseado apenas na opinião que ele têm sobre as roupas delas? "Mas daí", justifica o cidadão, "é só uma questão de opinião. Se ela discorda, o problema é dela." Afinal, opinião, cada um tem a sua. Certo?

O que eu quero dizer é que cada um pode pensar o que quiser, mas todos tem o DEVER de pensar nas consequências de suas opiniões de vez em quando. E com isso, talvez, até rever alguns conceitos: aquilo que a pessoa pensa não está escrito em pedras, imutável ou irremediável, e pode perfeitamente ser repensado. Se a sua opinião for interferir no direito e na liberdade do outro, aconselho a repensá-la, ou então guardá-la para você. Talvez ela sirva para alguns xingamentos "Anônimos" em comentários de internet. Mas ela não serve para sancionar leis, nem para justificar uma agressão (seja física ou qualquer outra). Ou seja, daqui, você tem duas opções: Ficar remoendo o fato de ser contra o direito dos outros, ou entender que você não pode interferir no direito do outro, tomando assim conta da sua própria vida. E acredite: Escolher a segunda opção vai te poupar de muito rancor, e quem sabe até de um infarto antes dos 40.