sexta-feira, 14 de junho de 2013

Revolta da Salada - 2013

Só queria fazer um comentário. Não àqueles que são contra as manifestações, esses não devem nem estar usando ônibus todo dia pra saber que qualquer 0,5 centavo que pagarmos a mais, já é injusto. Não, não... Quero falar com aquele que tá dizendo 'Sou a favor da manifestação, mas sou contra a depredação'... Pra vocês, que acham que aquilo prejudica "o resto das pessoas", como se aquele ato fosse algo alheio à sua realidade. Como se política fosse um universo alternativo, que não deveria afetar em nada a sua vida. Pra você, que está finalmente vendo a política escancarada na sua frente, e se assusta com isso - por que isso faz com que você tenha que lidar com ela. E faz com que você não possa mais fingir que não tem nada a ver com isso.

Primeiramente, sobre a crítica mais incisiva sobre o "perfil do manifestante": São "filhos de classe média" (Jabor, Arnaldo), Jovens desocupados de iPhone na mão. Eu sinceramente acho esse o argumento mais besta já inventado pelos que não tem o que argumentar. Então, por que esses 0,20 centavos não fazem diferença na vida de alguém que pode bancar um iPhone, a causa toda não vale a pena? Eu, que tenho VT da empresa, cruzo meus braços por que aquilo não me afeta? Pra mim, quem concorda com esse argumento é justamente uma pessoa egoísta, que naturalmente pensa 'se não me afeta, não tenho nada com isso'. Por que é a unica coisa que justifica desmerecer isso. Um cara que ganhe 500 reais não pode faltar no trabalho pra ir aos atos. O estudante universitário, que é um cara que (muitas vezes) tem a vantagem de ter segurança financeira, acesso a cultura e a educação, pode SIM lutar por um direito que não é só dele, nem só do rico, nem só do pobre - é um direito de TODOS. Portanto, eu não entendo por que desmerecer ao invés de achar isso algo positivo.
Entendam bem - eu não digo que todos aqueles que estavam no ato podem bancar um iPhone. Estou explicando que esse argumento, nem dentro da lógica reacionária sob a qual isso é visto, faz qualquer sentido.

A crítica aos 'manifestantes de Facebook' também me incomoda. O Facebook é a melhor ferramenta nesse momento, e não deve ser desmerecido. Anos atrás, quando eu estive num Ato contra o Aumento (em 2006, se não me engano - sim, faz tempo), o que mais sentimos falta foi disso - um meio publico de levar a noticia ao grande público. As grandes mídias abafando tudo o que fazíamos, um movimento sem a unidade necessária. Coisas que foram possibilitadas hoje em dia, através das mídias sociais. Cada vez que eu vejo mais e mais gente filmando as atrocidades que o Estado faz contra o povo, e compartilhando informações que não tinhamos como passar antes - só mesmo no boca a boca - eu sinto um grande orgulho. Ver a noticia sair na CNN e no El Pais, me faz encher o peito e dizer - POVO BRASILEIRO, É NÓIS!!! E isso foi possível graças ao Facebook. Eu queria, mesmo, poder estar lá. Eu estou trabalhando... Me envergonho muito de dizer isso. Entretanto, não me envergonho em dizer que, pelo Facebook (sim!), faço o que eu posso para ajudar a apoiar e propagar as causas de um manifesto que diz respeito diretamente a mim.

"Mas eles são uns vândalos, quebraram a Estação, e eu que vou ter que pagar!"
Aí eu imagino uma cena... Os 'meninos da classe média' tomando porrada na cara e saindo correndo no 1o Ato. Imagine que, depois disso, eles tenham recuado? "Oras, bando de covardes, boyzinhos que na primeira porrada já não aguentam", diriam os reacionários mal informados. Mas não - eles não pararam, nem recuaram... deram a cara para bater, outra e mais outra vez. Ai, os reacionários de plantão dizem "Baderna! Até quando vocês vão fazer isso, não adianta!" E enquanto você acha que não adianta, estamos aparecendo na CNN e no El Pais. Estamos colocando as caras no mundo como o 'povo que acordou'. Pense nisso, e imagine isso daqui a 50 anos. Imagine os seus filhos e netos, estudando História moderna, lendo sobre isso nos livros. E pense no orgulho que te dará ter sido parte daquilo, e poder contar como viveu isso ao vivo.

Voltando, por fim, à frase que eu mais ouvi essa semana: "Sou a favor da manifestação, mas sou contra o vandalismo." Vamos então, baseando-se nisso e em outros argumentos vazios e sem nexo, traçar o perfil de manifestante que o povo quer:

- Pobre e trabalhador (Gente a partir da classe média não pode ir! Afinal, eles tem grana para pagar ônibus e não podem, tampouco achar injusto que gente mais pobre que eles não tenha essa grana. Não, se não afeta o cara da classe média que ganha VT da empresa, ele não tem nada que reclamar);
- Adulto, acima de 30 (pois jovens são baderneiros, altamente violentos e não sabem o que dizem)
- Pacífico (se apanhar da polícia, tem que ficar calado, e sair logo das ruas pra não atrapalhar o trânsito. Afinal, vai me atrapalhar, por que eu só ando de carro, já que o transporte público é um lixo. Além disso, a democracia acaba depois que o povo elege um governante - depois disso, todo mundo tem que aceitar tudo o que o governante quiser, senão leva borracha na cara mesmo)
- Não fala nada, não comenta nada, muito menos compartilha seu apoio ao ato no Facebook (pois quem está no Facebook não está nas ruas, e só quem está nas ruas pode apoiar. Então, se você não está lá, automaticamente, é obrigado discordar do movimento)
- Trabalha e estuda (pois somente essas pessoas tem base para reclamar do transporte publico. É claro que essas pessoas falam mal enquanto estão entupidas feito uma sardinha num ônibus, paradas num congestionamento DE CARROS. Mas são essas pessoas que tem que ir ás ruas. Qualquer um que possa ir às ruas por ter o privilégio de ter horários livres E algum tipo de senso critico, não tem que ir pras ruas por que não tem nada do que reclamar)
- Ah! Lembrando ainda que a passeata tem que ser grande, senão, vai meia-duzia de doido e não vai adiantar nada! Agora, tentem não levar muita gente, senão atrapalha o bem-estar das outras pessoas, ok?

Pois é... Esse é o perfil de manifestante que você quer. Pobre, trabalhador, estudante acima de 30 anos e passivo. Acontece que, como percebido, essas são justamente as pessoas que NÃO PODEM ir às ruas - tem empregos que não podem perder, família para criar e aluguel para pagar. Se o manifestante que está na Universidade, questiona as atitudes opressivas do governo e quer mudar o que está de errado no mundo, é criticado por você.... e aí, não há como você dizer que "é a favor do protesto". Por que, se ficarmos esperando manifestos apenas desse perfil de pessoas que você acha ideal, acabaremos novamente apenas com "Manifestantes de Facebook", sendo roubados e reclamando que "brasileiro não se mexe".

Ah! E um grande PS: Será que, depois da atitude que a PM teve ontem, ficou mais claro por que os alunos da Usp não querem a PM no Campus? Ou você ainda acha que é só pra poder fumar maconha na faculdade?? Não, meu bem... Eles já tinham levado muita borrachada antes de você ficar sabendo.